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EDUCAÇÃO INFANTIL: ANÁLISE DA MANIFESTAÇÃO SOCIAL DO PRECONCEITO NA ATIVIDADE PRINCIPAL DE JOGOS.

Esta pesquisa partiu do pressuposto da existência de relações sociais preconceituosas manifestas por préescolares de 5 e 6 anos durante a prática de sua atividade principal, as brincadeiras e os jogos protagonizados. Partindo deste pressuposto, o objetivo geral da pesquisa consistiu em levantar indicativos de manifestações preconceituosas em crianças préescolares de 5 e 6 anos, na prática de sua atividade principal, e explicitar como as possíveis mediações estabelecidas pelas professoras, pela atividade e pelos próprios colegas exercem interferência no tipo de relação social assumida entre coetâneos. O estudo caracterizouse como qualitativo, orientandose por pressupostos do materialismo histórico, na perspectiva HistóricoCultural de Vygotsky. A coleta de dados foi desenvolvida em uma préescola do interior do Estado de São Paulo, utilizando como instrumentos metodológicos filmagens, observações e anotações em diário de campo sobre a prática de atividades lúdicas por crianças de 5 e 6 anos, tendo como foco analítico a explicação de como elas, em virtude do complexo de mediações estabelecido por esta atividade, pelos colegas ou pelos professores, tomam para si conhecimentos estereotipados que rotulam pejorativamente a diferença, marca patente na construção do homem arquitetada em desígnios hierárquicos e homogeneizadores. Os resultados das filmagens foram divididos em quatro categorias: mediação, preconceito de gênero, preconceito de raça e preconceito de beleza, e apontaram para a existência de manifestações preconceituosas embasadas nessas categorias durante as atividades lúdicas préescolares, além de ressaltar a importância exercida pela mediação docente na contestação dessas atitudes. Neste trabalho utilizamos uma diferenciação entre os termos préconceito e preconceito, pois o primeiro, embasado em Heller, representa uma etapa inicial da tomada de conhecimento sobre qualquer fenômeno construído socialmente; já o segundo se define não apenas como um constructo sem maior ponderação dos fatos que o constituem, mas como um conjunto de elementos que oprime e discrimina pejorativamente a diferença, seja de forma consciente ou inconsciente. Dessa forma, o preconceito se compõe de múltiplas gradações. Os dados obtidos na pesquisa apóiam esta distinção. Em virtude disso, conjecturamos o ciclo de desenvolvimento do preconceito, que pode ser dividido em três etapas: rotulação pejorativa da diferença (1ª fase); discriminação da diferença (2ª fase); e manutenção das atitudes discriminatórias mesmo quando há consciência dos fatos que as contradizem, ou seja, a cristalização do preconceito (3ª fase). Na préescola, com raras exceções, as manifestações preconceituosas se concretizam na consubstanciação das duas primeiras fases, não se observando a cristalização dos preconceitos, o que dá importância crucial às mediações pedagógicas na arquitetura de relações sociais mais fraternas e solidárias. Por meio dessas relações as crianças passam a entender a diferença não como desigualdade, mas como a expressão histórica da humanidade contidas nas mais diversas culturas, sociedades e seres humanos. A pesquisa finaliza destacando a necessidade da realização de estudos que investiguem como as crianças se apropriam do preconceito desde a mais tenra idade, elemento basilar para o estabelecimento de uma crítica radical sobre os processos excludentes pelos quais são envolvidos diversos alunos e alunas hodiernamente.

FONTE: UNIVERSIDADE DE BRASíLIA – UNB

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